Querida Hana Brady, minha querida amiguinha da cidade distante de Nove Mesto, na província da Morávia na Checoslováquia. Eras uma criança linda , com os teus olhos azuis e o teu cabelinho loiro, até parecias uma criança da dita raça " ariana " , quem diria que afinal não o eras ? Que eras uma criança " judia" ? A tua querida mãe " Marketa " era a tua felicidade, mas também o pai , Karel e o irmãozinho mais velho , George ajudaram -te a ser a criança feliz que eras. Gostavas de teatro, de dançar, de cantar, de patinar no gelo e de esquiar, até que vieram as terríveis restrições.
Hana e George eram as únicas crianças judias da cidadezinha de Nove Mesto, o que até ao dia 15 de março de 1939, pouca importância ou nenhuma teve, porque eram todos felizes. Mas nesse dia, as tropas nazis ocuparam o resto da Checoslováquia, e chegaram à cidade de Nove Mesto. Os Brady foram obrigados a declarar aos nazis todos os seus bens - a mercearia que tinham, as jóias, as obras de arte, os talheres, os registos bancários.
De um dia para o outro as crianças deixaram de poder ir ao cinema, com efeito, embora estivessem na fila para ver " A Branca de Neve e os Sete Anões ", foram proíbidos de o fazer . Foram proíbidos de viajar, pelo que já não poderiam ver os tios ou os avós, não poderiam mais frequentar a escola, nem ir a parques ou jardins, nem brincar com outras crianças, nem ir à rua sem a estrela amarela, colada à roupa que dizia " Jude " - Judeu .
Em março de 1941, a mãe foi intimada a comparecer nos escritórios da Gestapo na cidade vizinha de Iglau, muito cedo , pelo que teve de sair de casa a meio da noite para chegar no dia seguinte a horas. Teve apenas um dia para organizar tudo e para se despedir da família. Hana adormeceu com os bracitos em volta do pescoço da mãe, mas quando acordou de manhã, a mãe tinha partido. Fora levada para o campo de concentração de Ravensbruck , na Alemanha. No dia do seu aniversário , Hana recebeu através do correio uns corações feitos de pão enviados pela mãe para pôr na sua pulseira como pendentes , isto em maio de 1941. No final do mês de Setembro, uns homens batem à porta dos Bradys, desta vez é ordenado pela Gestapo a Karel, o pai, para os acompanhar. O pai, abraçando as duas crianças, pediu-lhes que fossem corajosas.
O tio Ludvik, cristão e casado com a irmã do pai, foi então buscar as duas crianças para sua casa , apesar das represálias que sofreria se fosse descoberto. Hana levou uma grande mala castanha com o forro às pintas, de que gostava muito. O pai , tinha sido levado para Iglau , uma prisão da Gestapo e escrevia-lhes regularmente .
No dia 30 de Abril de 1942 , chega a casa do tio Ludvik, uma notificação para as duas crianças, se apresentarem no dia 14 de maio de 1942 em Trebic , um centro de deportação, a cinquenta kilómetros de Nove Mesto. Era o que os tios mais temiam. Desolado, o tio , pediu a um cocheiro que levasse as crianças ao centro de deportação . Quando chegaram à mesa de registo deram os nomes ao soldado que aí se encontrava. Estavam rodeados de centenas de judeus que iriam ser deportados para um local chamado Theresienstadt , nome que os nazis deram à cidade checa de " Terezin " , quando a invadiram. Quando chegaram a Theresienstadt , os homes e os rapazes foram levados para um lado e as mulheres e as crianças, para outro. Hana viu-se de novo sózinha, sem a companhia do irmão. Numa das vezes que teve autorização para sair do barracão durante duas horas, Hana correu para a casa dos rapazes, onde para sua grande alegria, conseguiu encontrar o irmão que fazia pequenos trabalhos de canalização. Abraçaram-se, choraram, manifestaram a esperança de encontrar os pais entre as centenas de judeus que chegavam constantemente ao campo. Também partiam prisioneiros do campo, aos milhares, apinhados em vagões, para leste , para um destino desconhecido . Alguns tentavam convencer-se de que uma vida melhor , esperava esses que íam nos tais comboios , mas o medo e o pânico começaram a instalar-se.
Dentre os que chegavam ao campo, as duas crianças descobriram a avó , que tinha sido uma senhora muito requintada, mas que agora estava velha e doente . As crianças também descobriram com horror, que as rações que eram dadas aos idosos eram piores que as outras e em menor quantidade. A avó não conseguiu resistir e viria a falecer nas piores condições, passados três meses. À medida que o tempo passava, circulavam no campo, histórias sobre campos de " morte " , assassínios em massa , e valas comuns . Os alemães começaram a afixar em cada edifício todas as semanas , listas com nomes. Aqueles cujos nomes constassem dessas listas, teriam de se apresentar num átrio perto da estação de comboios dentro de dois dias . Havia listas por todo o lado , as contagens e as listagens eram constantes.
Quando os nazis começaram a aperceber-se de que estavam a perder a guerra, corria o mês de setembro de 1944, anunciaram que íam sair mais pessoas do campo de Theresienstadt.
Um dia, os joelhos de Hana cederam, quando descobriu numa das listas afixadas, o nome do irmão , George Brady . Quatro semanas mais tarde, soube que também ela ía ser enviada para leste. Ficou contente, e disse : " Vou voltar a ver o meu querido George ".
Na noite anterior à partida , Hana fez a mala, não havia muito que levar. Na manhã seguinte, ela e muitas outras raparigas foram conduzidas até à linha do comboio. O comboio que as transportou, avançou ruidosamente durante um dia e uma noite. Não havia comida, nem água, nem casa de banho. Súbitamente , no meio da noite de 23 de outubro de 1944, as rodas do comboio pararam com uma grande chiadeira e abriram- lhes as portas. As raparigas receberam então,ordens para sair do vagão . Estavam em Auschwitz. Mandaram-nas entrar num edifício grande , tendo a porta sido fechada com grande estrondo.
Hana nunca mais saiu viva de Auschwitz , no dia a seguir à sua chegada ao campo, foi levada para um dos muitos fornos crematórios , tinha então, 13 anos de idade.
Hana nunca mais saiu viva de Auschwitz , no dia a seguir à sua chegada ao campo, foi levada para um dos muitos fornos crematórios , tinha então, 13 anos de idade.
Soube-se da existência de Hana e do seu terrível destino em Auschwitz devido à sua mala castanha que sobreviveu à sua dona e que se tornou mundialmente conhecida.
O livro " A Mala de Hana " de Karen Levine , foi lido em todo o mundo e tornou a sua autora famosa.
Helena Sousa