No ser humano há uma tendência fortemente enraízada para ocupar o primeiro lugar, ansiando por pôr em evidência as suas faculdades intelectuais, os seus dotes físicos e as suas pretensas virtudes naturais.
Querer ser diferente dos outros, ambicionar uma independência que mais o vá individualizando. E, muitas vezes, queda-se em chocante complexo de superioridade , numa autocontemplação dos predicados que julga possuir no mais elevado grau.
Ser o primeiro é um desejo que pode nobilitar ou degradar, conforme é orientado em sentido positivo ou negativo.
A maior parte das vezes, as pessoas querem ter a primazia para satisfazer o seu orgulho ( a que chamam personalidade ), responder à sua entranhada vaidade, impor-se à consideração social e mitigar a sede ardente de domínio.
Ser grande para ser admirado, repeitado e servido! Assim, é a mentalidade comum.
E aquele que deste modo, se vai afadigado, acabará por se render pelo - menos no seu íntimo - quando começar a sentir que, perante os outros, está a ocupar o último lugar na escala real de valores.
Todavia, como ser inteligente e livre que é, o homem deve procurar ser o primeiro, distinguindo-se pelo escrupuloso cumprimento dos deveres de estado, pelo competente desempenho da sua profissão, pela seriedade e honestidade dos seus contratos, pela benevolência na maneira de apreciar as atitudes dos outros e pela severidade no julgamento das próprias faltas.
Este, como qualquer outro ideal, ir-se-á sempre distanciando do seu alcance ainda que para ele oriente continuamente os seus passos. Mas se, em espírito de humildade, souber sofrer as limitações inerentes à natureza humana e se, de alma erguida, assistir ao decesso dos seus sonhos e aspirações e se, a despeito de tudo isto, souber recomeçar sempre esta luta que não conhece tréguas, no Fim será honrosamente o primeiro.
Autor: F. Malça