Tudo está consumado", foram as últimas palavras, que na hora nona de sexta- feira, Jesus pronunciou do alto da cruz, expirando de
imediato. Ladeado por dois ladrões, Cristo sofreu o que jamais alguém sofrera.
Insultado pela populaça, vilipendiado pelos soldados, abandonado pelos seus próprios discípulos,dir-se-ia que o doce rabi da Galileia havia sido aniquilado e tudo quanto havia pregado, o seu luminoso apostolado, havia sido totalmente destroçado, destruído de forma irremediável. Pelo menos, humanamente, assim parecia e assim o julgaram os fariseus, os rabinos e os próceres da Judeia.
Nós, habituados hoje aos progressos, desenvolvimentos hodiernos e niquices da civilização do século XXI, não fazemos uma pálida ideia do que era o mundo e a civilização que imperava quando Jesus viveu e veio à terra para redimir o género humano.
Nessa longínqua época, o mundo estava dividido entre homens livres, servos da gleba e escravos. Estes eram tratados como animais, ou tidos como coisas, sem quaisquer regalias ou direitos. As mulheres e as próprias crianças, eram desprovidas de carinhos ou de quaisquer prerrogativas . Já alguns filósofos haviam pregado a prática do bem, mas só Jesus veio ensinar uma filosofia nova, uma doutrina diferente, que se baseava no amor , no perdão às injúrias, na complacência para com os próprios inimigos.
E isto, porque os filósofos eram homens, com todas as imperfeições inerentes à natureza humana, enquanto Jesus era Deus e podia proclamar : " Qual de vos me poderá arguir por pecar? " É que Ele era o próprio Deus, feito homem.
Durante três longos anos , Jesus percorre os caminhos da Palestina, ao longo do rio Jordão, desde Cafarnaum, ate Jerusalém , passando por Jericó, ensinando a mais sublime e elevada doutrina que o mundo jamais tinha aprendido . Protagoniza os mais prodigiosos milagres , dando vista aos cegos, fazendo andar os paralíticos, curando leprosos, ressuscitando os próprios mortos. Só Deus poderia operar tais maravilhas. Para seus discípulos, não escolheu nem letrados, nem doutores , nem sábios, nem filósofos. Preferiu chamar homens rudes, humildes pescadores. Durante a sua " Vida Pública " acompanha com pescadores, publicanos e outros doentes de espírito , tão carecidos da cura das suas imperfeições, como os enfermos de patologias físicas.
Mas os fariseus , que se faziam tão cumpridores e escrupulosos na observância das Leis, mas que tão implacáveis eram para os mais humildes e pecadores, como quando pretenderam lapidar a mulher adúltera, não reconheciam os seus próprios defeitos e, despeitados com a doutrina de Cristo, logo planeiaram a Sua morte.
Para tanto, caluniando, levaram Jesus ao Pretório e ao Sinédrio , arrastaram Cristo de Anaz a Caifaz, de Herodes ao Pretor Pilatos e, depois de coberto de opróbrios, depois de escarnecido, de humilhado, esbofeteado e flagelado, foi conduzido ao cume do monte Gólgota," O Lugar da Caveira ", onde foi desprezivelmente crucificado, entre dois ladrões da sociedade judaica.
Tanto fisica, como moralmente, não há notícia na história da humanidade , de quem tanto tenha sofrido. Isto só se pode compreender porque Jesus é Deus , a suma santidade, o Qual poderia aniquilar todos os Seus inimigos, mas por amor dos homens e para cumprir as Escrituras , foi coberto de chagas, vilipendiado, carregando sobre a sua pessoa, os pecados da humanidade, de todos os tempos e lugares.
Os próprios discípulos O abandonaram. Um deles, Judas Escariotes, traiu-O , outro, Simão Pedro, negou-O três vezes, um outro, renegou - O no alto do Calvário .
Sómente Sua mãe , a irmã desta, também " Maria ", mulher de Cleófas, Maria de Magdala, ou seja ," Maria Madalena ", Salomé e S. João, se mantiveram junto à Cruz.
Antes de exalar o último suspiro, " Dimas ", o supliciado da direita ainda diz : " Senhor , lembra - Te de mim, quando fores para o Teu Reino ". Ao que respondeu Jesus : " Hoje mesmo estarás comigo no Paraiso " . E logo de seguida, Cristo no meio de inenarrável sofrimento, dirigiu a palavra ao Pai do Céu, nestes termos: "Pai, perdoai - lhes , porque eles não sabem o que fazem" .
E a Cruz da Ignomínia, transformou - se para os Cristãos, na Cruz da Redenção , suavizando as dores e os sofrimentos da tantos aflitos do corpo e da alma.
Fabiao Baptista
