sábado, 16 de janeiro de 2010

DESABAFOS


Quando me perguntam se sou uma pessoa feliz, eu digo que sou e acho que sempre fui ! Hoje posso dizer com conhecimento de causa , que quando passamos por uma experiência menos boa e achamos que o mundo "cai" e que já não há hipótese, é mentira. Essa experiência menos boa é precisamente a melhor que nos está a acontecer, para nos dar segurança, maturidade e a frontalidade de sermos ainda mais felizes dali a algum tempo. Fantástica é a vitória imprevista, quando só esperávamos derrotas! E Deus quer-nos ajudar mas a nossa descrença, simplesmente bloqueia o processo de ajuda . Um não de Deus, é na verdade uma benção, só pode ser uma benção, mas por vezes, quando chegamos a compreender isso , é tarde demais !
Não nos zanguemos pois com as circunstâncias, não carreguemos o nosso coração de sentimentos mesquinhos, o mal- estar é sempre sintoma de alguma desarmonia interior, não baixemos os braços, antes, levantemo-los em adoração e em louvor ao Senhor pois Ele é maravilhoso e que bom é existir, ser promessa viva, repouso ideal de todos nós!
Helena Sousa


PAIS E FILHOS


Nunca me vou esquecer de uma história que me contaram na minha adolescência e que se teria passado na antiga China, em tempos imemoriáveis. Narra essa história, um costume muito antigo praticado entre todas as famílias e que era o seguinte: Quando um homem chegava à velhice e já não tinha forças para ajudar em casa a família, os filhos pegavam numa manta para o irem deixar no alto de uma montanha abandonado à sua sorte.
Havia um homem que observava tudo isto com tristeza, pois a sua idade já era muita e inevitavelmente chegaria o dia em que o seu único filho pegaria nele e o levaria até ao alto da montanha que apenas conseguia divisar,lá ao longe. Sofria o velhinho em silêncio,não sabendo que motivos poderia arranjar para demover seu filho, daquela ideia. Um dia, o momento chegou.
Logo pela manhã, o filho que já trazia uma manta, deu-lhe a ordem de partida. Iriam ainda de manhã e o mais depressa possível, pois o caminho era longo e não queria voltar a casa de noite. O velhinho experimentava uma tristeza indizível e sentia as lágrimas correrem-lhe pelo rosto, outrora belo. Olhou em volta uma última vez, querendo reter na memória cada objecto que lhe tinha dado tantas alegrias, tanto consolo e na sua despedida, apressava-se o mais que podia a vestir-se, para que o filho não protestasse !
Saíram de casa e caminharam em silêncio lado a lado, como se de dois estranhos se tratasse. O filho só se preocupava em caminhar o mais rapidamente possível , mas o pai sem levantar os olhos do caminho, com medo de tropeçar e cair, não podia impedir-se de pensar em tudo quanto tinha feito por aquele filho! O filho que habitava no seu coração ia agora deixá-lo impiedosamente só, sem recursos , nem comida ou água , para que morresse no alto de uma montanha ! O que iria ser dele ? Movia os lábios, numa prece surda, numa prece que lhe pareceu ter demorado toda a sua vida .
Chegados ao cimo da montanha, o filho pediu ao pai que ficasse logo ali, pois achava o sítio adequado, apressando-se a desdobrar a manta para a colocar nos ombros afadigados de seu pai. O velhinho sem forças, com os olhos cheios de lágrimas, só os conseguiu levantar para o filho que agora lhe parecia um estranho e balbuciar : Cuidado filho, não deixes ficar toda a manta comigo, corta-a antes ao meio e leva contigo a outra metade pois farte- á falta quando chegar a tua vez!
O filho fitou o velho em silêncio e por um momento, pareceu-lhe que tudo estava a desabar em seu redor e que não tinha onde se segurar . Ao ouvir tais palavras, percebeu a lição que seu pai lhe estava a querer transmitir e então, só pôde chorar amargamente !
Choraram os dois convulsivamente, cada um por diferentes razões, não sabendo o filho como se fazer perdoar pelo pai. Foi então que viu que o pai era aquilo que de mais precioso tivera em toda a sua vida e interrogava-se como podia ter sido tão cego que não tivesse percebido que se tratava de um costume injusto e cruel.
Pegou pois no velhinho que tinha a manta sobre as costas e desta vez, não o fez descer sózinho a montanha,mas fazendo um esforço terrível, carregou-o às costas , chorando de arrependimento pela dor que lhe tinha infligido e prometendo que nunca mais o abandonaria até que a morte os separasse.
Doravante sabia, que tudo quanto tinha repartiria com o seu velho pai, do mesmo modo que sempre tinha aprendido a fazer com ele .