terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

FILME PREFERIDO - " O PIANISTA "- R.POLANSKI E MÚSICAS FILME



O Festival de Cannes premiou no ano de 2002, com a Palma de Ouro, um filme dirigido por Roman Polanski, "  O Pianista ", adaptado do livro autobiográfico de Wladyslaw Szpilman.
A sua narrativa é de uma força excepcional, por isso assistiu-se a um dos maiores cineastas- Roman Polanski, a ser  aplaudido de pé pelo público, balbuciando, com lágrimas nos olhos, algumas palavras de agradecimento à sua equipe e aos milhares de figurantes do filme. Este foi um dos momentos mais emocionantes do festival de Cannes. Adrien Brody que deu vida na tela, ao pianista Szpilman, obteve o Óscar para o melhor actor principal, nesse mesmo ano .


Sinopse: do livro para o filme

Durante a II Guerra Mundial, o famoso pianista judeu polaco - Wladyslaw Szpilman, vê a sua família ser deportada em 1942. Ele consegue salvar-se, por puro acaso, do comboio da morte. Um policia, músico também, arranca- o do vagão, mas é enclausurado junto com outros milhares de judeus no Gueto de Varsóvia, errando às escondidas durante mais de dois anos e passando por sofrimentos, humilhações e lutas impossíveis , numa Varsóvia dominada pelos nazis. Doente, solitário e faminto, ficou a dever a sua vida a um outro oficial alemão, católico, Wilm Hosenfeld, que  nutria uma paixão exagerada pela música. Abalado pelos crimes nazis, decide ajudá-lo a sobreviver.

Três etapas dividem o filme: a opressão sufocante da sucessão de leis anti-semitas, querendo os judeus da época acreditar, que cada novo decreto, seria o último. O medo, frente ao nazismo, presença estranha e desumana, que ameaçava pessoas e famílias inteiras. Enfim, o inexplicável dos crimes imprevisíveis e frios, que não deixam margem para qualquer esperança.
Polanski consegue fazer esta reconstituição com rara autenticidade. No filme "O Pianista", não se chora, mas um sentimento de revolta e de raiva  apodera-se do espectador diante da maldade dos carrascos.
Neste filme, o director " Roman Polanski", quis reatar os seus laços com a sua origem judaica - polaca, tendo a sua infância sido passada no gueto de Cracóvia. Sua mãe morreu no campo de concentração e, embora seu pai tivesse sobrevivido, o mais terrível de tudo é que uma criança resiste a tudo, mas fica marcada para sempre quando é separada dos pais, disse Polanski em entrevista dada ao "O Estado de São Paulo", em 9 de Outubro de 2002. " Sempre soube que um dia faria um filme sobre o Gueto de Varsóvia, sobre esse período doloroso da história da Polônia, mas não queria que fosse autobiográfico. Desde a leitura dos primeiros capítulos das memórias de Szpilman, soube que "O Pianista" seria o objecto do meu próximo filme. Era a história que eu precisava: apesar do horror, uma históra positiva e cheia de esperança. Sobrevivi ao bombardeio de Varsóvia e ao gueto de Cracóvia e quis recriar as lembranças de minha infância. Quis ficar o mais perto possível da realidade e não filmar à moda de Hollywood ".
A história de Spzilman permite a Polanski reviver a sua própria história e o tema do isolamento humano, tão caro a ele, reaparece no filme através de janelas: quando Spzilman é obrigado a pular de abrigo em abrigo, de um apartamento de amigos polacos para outro, vemos o Gueto de Varsóvia através dos seus olhos. Vemos o que ele vê e, mais importante ainda, a forma como ele vê. Esses factos estão inscritos na sua consciência e vão moldar a sua memória para o resto da vida.
No livro que escreveu, Szpilman nunca se coloca como um herói, mas como um sobrevivente acidental, um homem que por ironia do destino ficou a dever a sua vida ao inimigo.

Da vida para o livro:

Wladyslaw Szpilman nasceu em 1911 em Sosnowiec, na Polônia, no seio de uma família judia. Ainda jovem, estudou piano com Joseph Smidowicz e Alexander Michalowski, antigos alunos de Liszt. Em 1931, parte para Berlim para continuar os seus estudos na Academia de Música. Durante esses anos compõe um Concerto para violino, a suite Zycie Maszyn (A vida das máquinas), e várias outras peças para piano e orquestra, para viola e também muitas canções populares que lhe valeriam uma bela reputação no seu país. Rapidamente é considerado um compositor promissor e um pianista virtuoso.
Em 1935, Szpilman é contratado pela Rádio Estatal polaca, em Varsóvia e trabalha como pianista para a rádio polaca, onde conhece uma cantora e o seu marido  Em 1939, enquanto interpretava um nocturno de Chopin, uma bomba lançada por um avião da Luftwaffe destrói o transmissor da estação de rádio. É o início da agonia do pianista, que duraria seis anos. Com a invasão da Polónia pela Alemanha, em 1939, os nazis vão estabelecer em Varsóvia, a capital, um gueto , onde todos os judeus ficam confinados. Szpilman é obrigado a sair de sua casa com toda a família, para se instalarem no gueto , e continuou a trabalhar ali como pianista, num restaurante. Permaneceu no gueto até a população do mesmo ser despojada de todos os seus haveres e ser conduzida à força , para os comboios que os levariam para os campos de concentração. Szpilman encontra refúgio junto da cantora e do marido. Após a descoberta do local, teve de ir para outros dois esconderijos. Após o amenizar da guerra, residiu em prédios abandonados.
E é em 1945, quando a rádio polaca volta a funcionar, que ele recomeça, interpretando o final do "Nocturno em C menor", de Chopin, que fora obrigado a interromper brutalmente, seis anos antes. Por coincidência, esse mesmo "Nocturno" vai salvar a  sua vida quando, quase no final da guerra, é descoberto no seu último esconderijo por um oficial alemão, que o faz tocar num piano , no meio de uma Varsóvia em ruínas.
Em 1945 pouco depois do fim da guerra, escreveu um relato da sua sobrevivência em Varsóvia. O livro com o título "Morte de uma Cidade", foi publicado na Polónia. O tom da obra é autêntico, rejeitando a emoção fácil ao reconstituir a vida do gueto, dos algozes e das vítimas que o povoaram. O livro foi fortemente censurado pelas autoridades comunistas, descontentes com a sua perspectiva da guerra, e o número de cópias impressas, foi reduzido. Após a guerra, Szpilman é  nomeado director musical da estação de rádio e dá grandes concertos na Europa e na América. Em seguida, continua a compor músicas que se tornam sucessos e hoje fazem parte do património cultural polaco. Na década de 1950, escreveu canções para crianças, que lhe valeram o prêmio da União dos Compositores Polacos, em 1955.
Em 1961, fundou o Festival Internacional da Canção, em Sopot, e a União dos Autores de Música Popular da Polónia.
Em 1964, é eleito membro da Academia dos Compositores Polacos. Szpilman tornou-se um dos mais produtivos compositores polacos.
Seu filho, Andrejsz Szpilman, descobriu em 1998 o manuscrito das suas memórias. Com efeito, as suas memórias não foram reimpressas senão cinquenta anos depois, em 1998 , ano em que foram publicadas em inglês e em muitas outras línguas, incluíndo o alemão, com o título . " O Pianista ". A obra obteve um  sucesso imediato. Em França, Foi dada  à obra , "O Pianista o Prêmio de Melhor Livro de 2001, pela redação do "Lire".
Wladyslaw Szpilman morre em Varsóvia, a 6 de Julho de 2000, aos 88 anos, tendo sido sepultado em Varsóvia.
Polanski e Spzilman, tiveram pois , um passado em comum.
Vários filmes, como "A lista de Schindler", de Spielberg, ou "A vida é bela", de Roberto Begnini, tentaram mostrar a dimensão do que foi o Holocausto. Algumas das cenas do filme "O Pianista" impressionam pelo seu intenso realismo.
A cena final, em que Szpilman se encontra na Varsóvia do fim da guerra, parece uma arena dos sobreviventes de um pesadelo.
Foi difícil achar os lugares em ruínas que a história exigia, tornando-se portanto necessário reconstruir a cidade a partir de vários elementos. Algumas ruas foram inteiramente reproduzidas  num estúdio de Berlim.
Polanski sabe que o cinema é incapaz de recriar o passado, mas a história de Szpilman  aí está para servir a visão de Polanski. Numa das mais emocionantes cenas do filme, o oficial que o salva da morte ordena ao pianista que toque, a fim de provar que é mesmo talentoso e famoso. Szpilman obedece, mesmo sem ter tocado desde o início da guerra. A cena é um tributo ao significado da sobrevivência.
Noutra cena inesquecível, antes de embarcar nos vagões para os campos , onde  matariam seus pais, duas irmãs e um irmão, o autor divide com eles uma barra de caramelo cortada em seis partes, a sua última refeição juntos.
Em nenhum momento do livro, Szpilman mostrou desejo de vingança. No fim da guerra tentou encontrar e salvar da prisão russa o oficial alemão que o tinha ajudado.
Tanto o livro como o filme, "O Pianista" tocam fundo na nossa alma. A sua lucidez e coragem, em condições onde uma migalha de pão fazia a diferença entre a vida e a morte, conseguem transmitir uma lição de vida. Como documento, "O Pianista" dá -  nos a oportunidade de acompanhar a trajectória de um homem determinado a viver, a qualquer preço.
O lirismo do músico, aliado a uma inteligência crítica, faz o espectador querer ir cada vez mais fundo ao seu passado.
E da mesma maneira que Polanski se identificou e se emocionou com esse vigoroso relato,  também nós, revivemos através do filme, uma vez mais, um dos mais dramáticos episódios da História Judaica - a destruição em massa dos judeus de Varsóvia.





                         " CENAS DO FILME " O PIANISTA"



 


                    Wilhelm Hosenfeld    

           O  alemão que salvou da morte    
           o pianista Wladyslaw Szpilman



ICH VERSUCHE JEDEM ZU RETTEM, DER ZU RETTEM IST

("Eu procuro salvar qualquer um que pode ser salvo")


No filme "O pianista", de Roman Polanski, um dos momentos mais marcantes foi o encontro entre Wladislaw Szpilman e um oficial alemão, num sótão, na Varsóvia ocupada, onde o pianista se escondia após ter escapado de um embarque para Treblinka.
Vemos então Szpilman tocar para o alemão, o "Nocturno", de Chopin. A partir daí o oficial alemão passa a fornecer comida e a visitá-lo regularmente até que um dia ele se despede, dizendo que os alemães  se estão a retirar, pois as tropas russas  aproximam-se.
Ficam então as perguntas: quem era esse homem? Porque fez aquilo? Porque arriscou a sua vida para salvar um homem que segundo o regime a que servia, era apenas um sub - humano, destinado ao extermínio?
Com a publicação, na Alemanha, de um livro, contendo na íntegra o diário e as cartas do capitão Wilhelm Hosenfeld (Wilm). Veterano da primeira guerra, onde lutou ainda muito jovem, e como boa parte dos alemães ressentido com o tratado de Versalhes, entusiasmou-se com o partido nazi. Alistou-se em 1939 e participou da invasão da Polônia.
Ao ver uma criança ser executada por ter roubado um pouco de feno, mudou de posição.
"Envergonho-me de fazer parte dos culpados , por uma tragédia tão grande, sem poder auxiliar as vítimas" escreveu numa carta à mulher Anneliese, aos dois filhos e às três filhas.
Hosenfeld aprendeu polaco, passou a esconder fugitivos e a fornecer documentos falsos. Salvou tantos quanto pode. Segundo o seu filho Helmut a apreensão das cartas de seu pai, seria o suficiente para o condenar à morte.
Em Julho de l942, escreveu Hosenfeld a Anneliese:
- Pode um alemão ainda mostrar-se ao mundo? É para isso que os nossos soldados morrem na frente de batalha? A história não conhece nada igual. Talvez os arcaicos tenham praticado o canibalismo, mas nós que conduzimos a cruzada contra o bolchevismo, como podemos abater homens, mulheres e crianças em pleno século XX?
Seremos normais? A culpa é tão grande que nos faz afundar no chão de vergonha.  Será que o demônio adoptou forma de gente?
Só em 1998, Szpilman revelou detalhes do encontro com Wilm. elos Apesar dos apelos de familiares e de muitas pessoas que tiveram a vida salva por ele, Stalin não abrandou a sua pena, condenando-o a 25 anos de trabalhos forçados ( que nas condições em que se cumpriu a pena, equivalia a uma condenação a morte).
Wilhelm Hosenfeld que salvou tantos de um tirano sanguinário,  veio fatalmente, a perecer às mãos de um monstro igualmente cruel.



4 comentários:

  1. Olá . Desculpe responder tão tarde , mas só agora vi a pergunta . Eu já vi a tradução do livro " O Pianista " em português. Por acaso, vi-o um dia no Hipermercado Continente , mas não cheguei a ver o preço, porque no dia seguinte , já o não encontrei, mas deve haver na Livraria Bertrand.

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  2. existe o livro de wilh hosenfeld em portugues?

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  3. Olá, cara leitora. Não sei se existe a biografia de Wilh Hosenfeld em português, é bem capaz de existir ! Procure na Livraria Bertrand Por acaso, nunca procurei nenhuma obra àcerca dele.

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